quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sobre amizade e abnegação

Hoje aprendi um monte de coisas: melhorei os golpes que a tia Li’ank me ensinou, e, em breve, poderei utilizar tais habilidades em combate; aprendi o sentido de equipe, e de como sem dor, não poderá haver ganhos. Essa é a vida de aventureiro à qual terei de me acostumar. É engraçado... exceto pelas décadas congelado que, claro, não passaram de um noite de sono intranqüila pra mim, em poucos dias minha vida no palácio real parece estar a séculos de distância. Chegamos à cidade chamada Kratas. Parece que ela é governada por um cara que enganou a morte... deve ser bem velho... talvez tenha lembrança do que ocorreu com o meu povo. Enfim, mas pode esperar por enquanto.

Nosso gigante particular, o poderoso Massa teve uma idéia que, de início, pareceu-me bastante contraproducente: lutar com um cara mais forte para obter dinheiro. Lembro que havia esse tipo de coisa na minha cidade, mas apostávamos em cães e galos. Enfim, a sandice não parou por aí. A idéia era a de que, mesmo que houvesse a derrota de um, outro deveria subir na arena para se digladiar, até que alguém obtivesse a vitória... ou sucumbíssemos todos.

Massa foi o primeiro... que luta, quanta pancadaria. E por mais que nosso poderoso companheiro combatesse com força, parece que seus golpes, como que por encantamento, não eram capazes de derrubar o monstro de pedra. Numa tentativa desesperada, Massa utilizou seus temíveis chifres, quase derrubando a fera e... foi aniquilado. Entrou em cena nosso maior herói, ninguém menos que Francis Drake. Sua performance, no entanto, em nada lembrava sua impecável técnica e mortífera destreza. Após sua queda, Portusss desafiou o pedregulho. A precisão cirúrgica de seus golpes, a rapidez, provocavam espanto na platéia... juro que vi uma criança ao lado de fora da arena chorando de pavor. Entretanto, assim como os demais, foi derrotado. Neste momento, tomado de medo e dúvida, compreendi o que se passara...

Sim, cara diário, o que via ali foi um ato de abnegação, sentido de união e bondade nunca visto em paragem alguma, ou mesmo cantado em nenhum recanto. Estupefato, compreendi meus caros companheiros caíram... DE PROPÓSITO. Sim, que outra explicação haveria senão a óbvia? Fizeram de tudo para perder de maneira que eu pudesse entrar na arena para provar o meu valor. Como num rito de passagem, naquele instante, me tornaria um verdadeiro homem, digno de integrar a trupe dos Caçadores de Drakkas.

Súbito, meu medo converteu-se em fúria, e parti para cima do gigante de pedra a fim de dar o meu melhor... iniciei com uma manobra de ataque, e quase perfurei a carapaça petrificada com meus Earth Darts, mas ainda assim ele veio para cima. Levei uma pancada tão forte que achei que todos os meus ossos iria se quebrar, mas eles se mostraram resistentes. Mesmo com os urros devastadores da besta, consegui me fundir com a terra, manobra evasiva que me garantiu oportunidade de mais uma vez golpeá-lo... pela expressão de dor pude ver que, caso eu conseguisse golpeá-lo assim, poderia fazê-lo cair por terra...

Mas então, algo aconteceu... minha lembrança nesse ponto ainda está um pouco anuviada... lembro de sentir dor de cabeça, e do gosto de sangue na boa. De repente, tia Li’Ank me acordou com sua habitual delicadeza: “ACORDA MULEQUE”. Quando pude ver, na arena, o Obsidman caído... meu coração se encheu de emoção, alegria, o gosto da vitória, finalmente os bardos poderia cantar meu nome aos quatro ventos por ter derruba... “PÁRA DE VIAJAR MULEQUE, SENÃO EU TE DOU UMA LIÇÃO COMO A QUE DEI NO OBSIDMAN”...

Enfim, não foi dessa vez, mas a lição de companheirismo de nosso grupo, ah, essa eu jamais vou esquecer!!!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

DIA I

Quando vi o brilho diante dos meus olhos, achei que era das luzes do salão de festa onde iria comemorar meus doze anos. Diante de mim a figura de Li-Ankh, que se parece muitíssimo com minha irmã mais nova – o mesmo olhar de reprovação em tudo o que faço –, e Calabis, uma elfa muito gente boa, que, de uma maneira que eu não explicar, parece acalmar minhas inquietações com o doce som de sua flauta. Junto com elas um grupo heterogêneo de aventureiros: um humano que parece um troll, um troll que luta como um orc, um obsidman que parece uma fada, uma fada que parece uma guerreira, e um tskrang que... céus, o que é aquilo?!?! Meu estranhamento inicial foi dissipado quando vi que uma estranha ligação unia essa gente como a uma família. Era estranho, mas me senti seguro com aquela trupe. Estava assustado, ainda mais quando Li-Ankh me informou sobre o cruel destino que foi reservado ao meu povo, do qual ainda não digeri ainda. Se a realidade for essa mesma, parece que estive congelado por gerações. Um mistério que ainda hei de resolver.

Saímos de dentro de uma caverna – onde, talvez, tenha de voltar para descobrir mais sobre meu passado e destino – e seguimos para uma nobre missão: salvar uma caravana que estava sendo atacada por orcs. Quem diria que minha primeira experiência na superfície, minha primeira oportunidade sentir o vento no rosto, fosse coberta por suor e sangue. Meus novos companheiros – será minha nova família? – são tão valorosos em batalha que eu mesmo fiquei animado em ajudar. Mesmo não sendo do meu feitio usar da violência pura e simples para resolver as coisas, ajudei a deitar por terra alguns de nossos oponentes. Meus esforços foram tímidos se comparados à bravura demonstrada por todos. Acho que tenho muito a aprender com eles. Enfim... acho que meu pai estava certo... há força em meu sangue! Pois então, que tenha início a escrita de uma grandiosa história!!!

PRÓLOGO

É possível sonhar dentro de um sonho? Ou antes: é possível ter um pesadelo dentro de outro? Minha vida se transformou subitamente num ambiente irreal, inacreditável. Não sei ao certo se estou mesmo acordado, e por isso mesmo farei deste diário a evidência material do que se passa comigo nestes tempos. Não sei onde começa minha memória dos fatos e onde termina minha imaginação. Sei que antes de completar meus doze anos, sempre imaginei, como todos os de meu povo, como seria correr pelas terras, outrora livres, que foram assoladas pela terrível presença dos horrores. Gerações se passaram sem que ninguém mais se lembrasse claramente qual a sensação de confrontar a luz do Sol, de correr pelos campos com o vento ou a chuva batendo no seu rosto. E agora, embarquei, como que por encanto, numa aventura com desconhecidos que, ao que tudo indica, são bem intencionados. Assim espero.

A última lembrança que tenho, antes de despertar, é a de conversar com meu pai acerca do futuro de nossa gente. Ele fazia incursões na superfície, para elem das proteções de nosso kaern. Ele tentou me explicar umas mil vezes o procedimento mágico que permitia verificar o ambiente externo... enfim, numa fui o filho mais aplicado. Lembro de seu rosto de expressão grave. Naquela época, meu pai já nem sorria. Notei que a preocupação de seu olhar dava a ele um tom melancólico que ele fazia de tudo pra esconder. Dizia-me que sinais de fraqueza poderiam fazer até mesmo seus aliados se virarem contra você. Na véspera de completar doze anos, os anciãos de meu povo completaram as tatuagens em meu corpo. Segundo meu pai, este seria o seu mais valioso presente para mim, mas que eu só poderia abri-lo quando tivesse experiência suficiente. Segundo minha mãe, eu levaria comigo segredos mágicos valiosos demais para serem esquecidos. Segundo meu irmão mais velho, “para o Aang?!?! Como assim?!?!? EU SOU o primeiro na linha sucessória!!!” Para minha irmã mais nova, “ô tatuagem feia do caralho!!!” – enfim, eu não era o mais brilhante, mas também não era dos piores!

No grande dia, um banquete foi realizado. Pude ouvir o som da minha festa, as luzes, o aroma do banquete. Doze anos: era esperado que eu me tornasse, enfim, um homem. Meu pai, sem dizer palavra, no entanto, me conduziu para uma área isolada de nosso lar. Um salão amplo, onde os anciãos se reuniam para conversar sobre sabe-se lá o quê. Tive medo, e apertei a mão de meu pai com força. Ia começar a chorar quando meu pai me deu uma bofetada e disse: filho, em nosso tempo, cada lágrima é um desperdício imperdoável de força! Fui conduzido para o centro do aposento, onde haviam inscrições no chão, parecidos com minhas enigmáticas tatuagens, e um pentagrama, e em suas pontas, runas que representavam os cinco elementos. Súbito, meu pai deu as costas – nunca mais vi seu olhar – e disse: há força em seu sangue, meu filho, e com ele, ainda há de reescrever a história de seu povo. Cânticos foram entoados pelos anciãos... Comecei a tremer de frio e medo... As luzes me abandonavam... Acho que adormeci. E agora, não sei ao certo se estou acordado ou não.